Um ensaio da memória: reflexões sobre a produção de cuidado e conhecimento em encontros na rua-lar
DOI:
https://doi.org/10.35588/estudav.v0i39.6525Palavras-chave:
cuidado, conhecimento, população em situação de rua, narrativa memorialística, interseccionalidadeResumo
Discutiremos a produção de cuidado e conhecimento em encontros que cortam e colocam em primeiro plano corporeidades e afetividades. Na complexidade de caminhos percorridos em um serviço de saúde voltado para a população em situação de rua, o encontro com vidas violadas, sobretudo de mulheres negras, nos interroga e força uma política de escrita que permita o transbordo. A narrativa memorialística constitui, assim, uma ferramenta com função ao mesmo tempo epistemológica, ética e política que nos permite refletir sobre nosso presente, sobre alianças, lutas e insistências da vida, mesmo lá onde ela parece improvável. Apresentamos um ensaio teórico que coloca essas vidas em diálogo com o feminismo negro e interseccional e com a obra de Conceição Evaristo, para pensarmos nossas aproximações com as vidas nas ruas, seja quando buscamos produzir cuidado ou conhecimento. Trazendo para o texto a história de uma moradora da rua-lar, afirmamos a importância da interseccionalidade para análises e relações de cuidado que rompam com estruturas hierárquicas e individualistas ligadas ao patriarcado colonialista que atingem o território urbano, as políticas públicas e as formas de apropriação e inteligibilidade dos espaços e das vidas.
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