Crises entretecidas por colapso de barragens: da reconexão de espaços às narrativas hesitantes

Autores

Palavras-chave:

Colapso de barragem, crises, emergências, defesa civil, mídia, desastres

Resumo

No Brasil, barragens de diferentes portes e finalidades têm rompido com relativa frequência nas últimas décadas. Tais ocorrências deflagram desastres, o que se torna uma razão adicional para problematizar a implantação desses empreendimentos. Tanto as narrativas dos gestores públicos quanto as narrativas midiáticas podem agir como filtros que contribuem para ocultar certos aspectos da crise enquanto há visibilidade de outros. Essa reflexão sociológica aponta aspectos socioespaciais e discursivos sobre esse jogo de mostrar e ocultar a magnitude da crise socioambiental. Ilustrativamente, são abordados três casos de rompimento de barragem ocorridos em regiões distintas do referido país, a saber: o da barragem de Algodões 1, localizada no estado do Piauí, região nordeste, ocorrido no ano de 2009; o da barragem do Fundão, localizada em Minas Gerais, região sudeste, em 2015 e o do conjunto das represas de Paragominas, no estado do Pará, região norte, ocorrido em 2018. Conclui-se que o rompimento de barragens não é apenas uma crise pontual, mas o ápice de uma lógica tecnocrática de subestimação dos riscos na qual a cobertura midiática predispõe-se a replicar a narrativa oficial, resultando em perda de subsídios para uma consciência pública mais crítica sobre o assunto.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Alexander, D. (2014). “Social Media in Disaster Risk Reduction and Crisis Management”. Sci Eng Ethics 20(3): 717-733.

Amaral, M.F.; Pozobon, R.O. y Rubin, A. (2010) “Modos de endereçar a tragédia: indignação, testemunho e piedade”. Lumina 4: 1-15. Disponible en: https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/20921 (consultado 10/08/18).

Amaral, M.F. y Ascencio, C.L. (coords.). (2019). Perodismo y desastres. Múltiples miradas. Barcelona: InCom-UAB y Editorial UOC.

Beck, U. (1999). World risk Society. Cambridge y Malden: Polity Press.

______. (1992). Risk society: towards a new modernity. Londres: Sage.

______. (1995). “A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva”. En Giddens, A.; Beck, U. y S. Lach (orgs.). Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: UNESP.

Brasil. (2018). Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Brasília: Ministério do Planejamento.

______. (2017). Relatório sobre o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco e seus efeitos sobre o Vale do Rio Doce. Brasília: Conselho Nacional de Direitos Humanos Brasília. Brasília: Conselho Nacional dos Direitos Humanos. Disponible en: http://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/participacao-social/conselho-nacional-de-direitos-humanos-cndh/Relatrioda BarragemdoRioDoce_FINAL_APROVADO.pdf (consultado 10/08/18).

Bermann, C. (2014). “A desconstrução do licenciamento ambiental e a invisibilização do social nos projetos de usinas hidrelétricas”. En Zhouri, A. y Valencio, N. (orgs.). Formas de matar, de morrer e de resistir: limites da resolução negociada de conflitos ambientais. Belo Horizonte: UFMG.

Cottle, S. (2014). “Rethinking Media and Disasters in a Global Age: What’s Changed and Why it Matters”. Media War & Conflict 7(1): 3-22. DOI https://doi.org/10.1177/ 1750635213513229

Dombrowsky, W. (1998). “Again and Again: Is a Disaster What we Call a ‘Disaster’?”. En Quarantelli, E.L. (ed.). What is a Disaster? Perspectives on the Question. Londres y Nueva York: Routlegde.

Douglas, M. y Wildavsky, A. (1983). Risk and Culture: an Essay on the Selection of Technological and Environmental Dangers. Berkeley: University of California Press.

Fischer, H.W. (2008). Response to Disaster: Fact Versus Fiction and it is Perpetuation. Maryland: University Press of America.

Fritz, C. (1961). “Disaster”. En Merton, R.K. y Nisbet, R.A. (eds.). Contemporary Social Problems. Nueva York: Harcourt.

Gaitán, J.A.; Lozano C. y Piñuel J.L. (2013). Confiar en la prensa o no. Un método para el estudio de la construcción mediática de la realidad. Salamanca: Comunicación Social.

Gonçalves, J.C.; Marchezini, V. y Valencio, N. (2012). “Desastres relacionados a colapsos de embalses em Brasil: aspectos sociopolíticos de uma seguridade ilusória”. Estudios Sociológicos XXX: 773-804.

Giddens, A. (1995). “A vida em uma sociedade pós-tradicional”. En Giddens, A.; Beck, U. y Lach, S. (orgs.). Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: UNESP.

______. (1991). As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP.

Locatelli, C. (2014). Comunicação e barragens. Florianópolis: Insular.

Losekann, C. (2018). “Não foi acidente! O lugar das emoções na mobilização dos afetados pela ruptura da barragem de rejeitos da mineradora Samarco no Brasil”. En Zhouri, A. (org.). Mineração: violências e resistências. Marabá: Iguana.

Lourenço, L. (2015). “Riscos, perigo e crise: pragmatismo e contextualização”. En Siqueira, A.; Valencio, N.; Siena, M. y Malagoli, M.M. (orgs). Riscos de desastres relacionados à água: aplicabilidade de bases conceituais das ciências humanas e sociais para a análise de casos concretos. São Carlos: RiMa.

Madeiros dos Santos, C. (2013). “A verdade sobre a tragédia de Algodões 1”. Congresso em Foco. Brasília: Congresso em Foco. Disponible en: https://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunas/a-verdade-sobre-a-tragedia-de-algodoes-1/ (consultado 14/08/2018).
Milanez, B. et al. (2015). “Antes fosse mais leve a carga: avaliação dos aspectos econômicos, políticos e sociais do desastre da Samarco/Vale/BHP em Mariana (MG)”. Disponible en: http://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/PoEMAS-2015-Antes-fosse-mais-leve-a-carga-vers%C3%A3o-final.pdf (consultado 14/08/2018).

Morin, E. (2008). On complexity. Cresskill: Hampton Press.

Murdoch, G.; Petts, J. y Horlick-Jones, T. (2003). “After Amplification: Rethinking the Role of the Media in Risk Communication”. En Pidgeon, N.; Kasperson, R.E. y Slovik, P. (eds.). The Social Amplification of Risk. Cambridge: Cambridge University Press. DOI https://doi.org/10.1017/cbo9780511550461.008

Nixon, R. (2011). Slow Violence and the Environmentalism of the Poor. Cambridge: Harvard University Press.

Pidgeon, N.; Kasperson, R.E. y Slovik, P. (eds.). (2003). The Social Amplification of Risk. Cambridge: Cambridge University Press.

Quarantelli, E. (2005). “A social science research agenda for the disasters of the 21st century: theoretical, methodological and empirical issues and their professional implementation”. In R.W. Perry e E. Quarantelli (orgs.). What is a disaster? New answers to old questions. Newark: International Research Committee on Disasters.

______. (1998). “Epiloque”. En Quarantelli. E. What is a Disaster? Perspectives on the Question. Londres y Nueva York: Routledge.

Ribeiro, G. (2008). “Poder, redes e ideologia no campo do desenvolvimento”. Novos Est. CEBRAP 80: 109-125. DOI https://doi.org/10.1590/s0101-33002008000100008

Santos, M. (1995). Espaço e método. São Paulo: Hucitec.

Scanlon, J. (2011). “Research About the Mass Media and Disaster: Never (Well Hardly Ever) the Twain Shall Meet”. En Detrani, J.R. (ed.). Journalism: Theory and Practice. Florida: Apple Academic Press.

______. (2007). “Unwelcome Irritant or Useful Ally? The Mass Media in Emergencies”. En Rodríguez, H.; Quarantelli, E. y Dynes, R.R. (eds.). Handbook of Disaster Research. Nueva York: Springer. DOI https://doi.org/10.1007/978-0-387-32353-4_24

Sevá, O. (2008). “Estranhas catedrais. Notas sobre o capital hidrelétrico, a natureza e a sociedade”. Cienc. Cult. 60(3): 44-50.

Su, Ri-Qi; Lai, Y.C.; Wang, X. y Do, Y. (2014). “Uncovering Hidden Nodes in Complex Networks in the Presence of Noise”. Scientific Reports 3944. DOI https://doi.org/10.1038/srep03944

Tierney, K.; Bevc, C. y Kuligowsky, E. (2006). “Metaphors Matter: Disaster Myths, Media Frames, and Their Consequences in Hurricane Katrina”. Annals AAPSS 604(1): 57-81. DOI https://doi.org/10.1177/0002716205285589

Valencio, N. (2019). “Dinâmica de desastres e suas conexões com outras crises: uma abordagem complexa sobre o caso brasileiro”. En Araújo, S.M.S.; Almeida, L.Q.; Carvalho, R.J.M. y Bindé, P.J. (orgs). Enfoques multidisciplinares sobre desastres 2: desafios para a redução de riscos de desastres, I. Paulo Afonso: Soc. Bras. de Ecologia Humana-SABEH.
______. (2017). “Considerações sociológicas acerca de desastres relacionados a barragens e a atual desproteção civil de comunidades ribeirinhas conviventes com o megaempreendimento hídrico de Belo Monte”. En Magalhães, S.B. y Cunha, M.C. (coords.). A expulsão de ribeirinhos em Belo Monte - Relatório da SBPC, I. São Paulo: SBPC.

______. (2013). “A crise social denominada desastre: subsídios para uma rememoração coletiva acerca do foco principal do problema”. En Valencio, N. (org.). Sociologia dos desastres: construção, interfaces e perspectivas no Brasil, III. São Carlos: RiMa.

______. (2009). “Da morte da Quimera à procura de Pégaso: a importância da interpretação sociológica na análise do fenômeno denominado desastre”. En Valencio, N.; Siena, M.; Marchezini, V. y Gonçalves, J.C. (orgs).  Sociologia dos Desastres: construção, interfaces e perspectivas no Brasil, I. São Carlos: RiMa.

Valencio, N. y Gonçalves, J. C. (2006). “Da confiança à fatalidade: colapso de barragens como limite ao paradigma da modernizacão?”. Política e Trabalho 25: 203-222.

Valencio, N. y Valencio, A. (2018a). “Media coverage of the ‘UK flooding crisis?’: a social panorama”. Disasters 42: 407-431. DOI https://doi.org/10.1111/disa.12255

______. (2018b) “O assédio em nome do bem: Dos sofrimentos conectados à dor moral coletiva de vítimas de desastres”. Lumina 12: 19-39. DOI https://doi.org/10.34019/1981-4070.2018.v12.21531

______. (2010). “O processo de vulnerabilização de populações inseridas à jusante de barragens no Brasil: apontamentos sociológicos para catástrofes anunciadas”. Anais do V Encontro da ANPPAS. Florianópolis: ANPPAS, 1-15.

Zhouri, A. et al. (2016). “O desastre da Samarco e a política das afetações: classificações e ações que produzem o sofrimento social”. Ciência e Cultura 68: 36-40. DOI https://doi.org/10.21800/2317-66602016000300012

Publicado

2019-12-17

Edição

Secção

Artigos Micelâneos

Como Citar

Lopes da Silva Valencio, N. (2019). Crises entretecidas por colapso de barragens: da reconexão de espaços às narrativas hesitantes. Estudios Avanzados, 31, 42-65. https://revistas.usach.cl/ojs/index.php/ideas/article/view/4274

Artigos Similares

21-30 de 279

Também poderá iniciar uma pesquisa avançada de similaridade para este artigo.